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Utilizando a expertise do setor de petróleo e gás para a energia eólica offshore

22 de abril, 2020
By The Explorer
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A transição dos combustíveis fósseis para a energia renovável não ocorrerá de um dia para o outro. Não é possível simplesmente descartar o antigo e implementar o novo. É um processo gradual, que será influenciado por uma miríade de fatores, entre os quais figuram os marcos regulatórios internacionais, preço do petróleo, financiamento, custos, desenvolvimento tecnológico e mentalidade.

Para levar a cabo a transição energética, será crucial promover a diversificação, isto é, a capacidade de penetrar novos mercados ou setores. A expertise que já existe em vários setores pode ser reutilizada, e sinergias podem ser exploradas a fim de criar soluções inovadoras em novas indústrias.

Diversificação rumo à energia eólica offshore

Um exemplo pioneiro deste tipo de diversificação é a transição do petróleo e gás offshore para eólica offshore, fenômeno que já pode ser testemunhado ao longo de toda a cadeia de valor da Noruega.

Players de grande porte estão liderando esta iniciativa. A Equinor, por exemplo, está emergindo no cenário mundial como líder em desenvolvimento para a energia eólica offshore. A empresa usou décadas de conhecimento acumulado no setor de petróleo e gás offshore para ser a precursora da tecnologia empregada na plataforma flutuante Hywind, destinada a produzir energia eólica offshore. Recentemente, a Equinor construiu o primeiro parque eólico flutuante, Hywind Scotland, que alimenta mais de 22 mil domicílios no Reino Unido. Em breve, a empresa estará iniciando o projeto Hywind Tampen, primeira iniciativa do tipo no mundo, cujo escopo será implementar 11 turbinas no mar do Norte, com capacidade total de 88 MW. A eletricidade gerada por esta unidade alimentará cinco plataformas de petróleo e gás.

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O Hywind Scotland é o primeiro parque eólico offshore totalmente operacional do mundo.

Roar Lindefjord/Wolcam/Equinor

No quesito embarcações, o Ulstein Group expandiu seu portfólio de projetos para incluir embarcações de operação e manutenção destinadas a parques eólicos offshore, além de embarcações com fins especiais para estações offshore de petróleo e gás. A empresa Umoe Mandal também entrou no mercado de eólica offshore através do produto WAVECRAFT™, que realiza o embarque e desembarque das tripulações que operam as embarcações.

Empresas menores também estão entrando no páreo da diversificação. A Uptime, por exemplo, fornece passadiços tanto para o setor de petróleo e gás quanto para os mercados de eólica offshore. A empresa está facilitando a tarefa de “caminhar rumo ao trabalho” em parques eólicos offshore ao proporcionar o primeiro passadiço inteligente do mundo: ele é capaz de aprender como se acoplar em novos locais, dispensando operação manual.

Cada vez mais empresas estão identificando que suas soluções já existentes para o mercado de petróleo e gás podem ser adaptadas a novos mercados.

Um mercado em expansão

A transição para a energia eólica offshore não é apenas um imperativo ambiental: também é um ótimo negócio. Segundo a International Renewable Energy Agency, o potencial global para o mercado de eólica offshore é, atualmente, de 100 GW até 2030.

Um relatório de 2017 comissionado pela NORWEP (Norwegian Energy Partners) levanta dados especificamente sobre as oportunidades voltadas à cadeia de suprimentos para eólicas offshore na Noruega. As projeções de mercado atuais sugerem que 100 bilhões de euros serão gastos entre 2017 e 2025 somente no setor europeu de energia eólica offshore.

Evidentemente, as empresas que começarem a diversificar mais cedo colherão maiores benefícios.

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A Uptime lançou o primeiro passadiço inteligente do mundo para a indústria eólica offshore.

Uptime

Nem tudo deve ser descartado!

Apesar da meta final ser encerrar nossa dependência dos combustíveis fósseis, pesquisas indicam que seria um enorme desperdício “jogar fora o bebê junto com a água do banho”. A indústria de petróleo e gás norueguesa é riquíssima em expertise, produtos e serviços que podem ser adaptados para diversos setores, como o eólica offshore, aquicultura offshore, sequestro e armazenamento de carbono, hidrogênio e afins.

Nos últimos anos, vários grupos de pesquisadores do Centro de Tecnologia, Inovação e Cultura da Universidade de Oslo vêm estudando empresas pertencentes à cadeia de valor da indústria do petróleo e as incursões que estas realizam em novos mercados, entre os quais figura justamente a eólica offshore. Os pesquisadores envolvidos investigam a situação a partir de diversas perspectivas, incluindo a tecnológica a e a mercadológica.

Segundo os autores de um estudo, 6 em cada 10 empresas dedicadas a atividades envolvendo eólicas offshorre relataram, na pesquisa, que as atuais atividades se beneficiaram da experiência advinda do ramo do petróleo e gás.¹ A eólica offshore requer o emprego de técnicas especializadas, equipamentos e serviços. Graças à sobreposição de tecnologias, principalmente nas áreas marítima e de subsea, adaptar e reimplementar tecnologias existentes para eólica offshore não é um desafio intransponível às empresas do setor do petróleo e gás. Assim, a indústria da energia eólica torna-se imediatamente atraente a quem já tem a expertise.

A diversificação rumo à energia eólica offshore também é atrativa do ponto de vista econômico, pois, devido a flutuações nas condições mercadológicas, as atividades do setor de petróleo e gás podem ter de ser reorganizadas com relativa rapidez.

Assim, além de criar novas oportunidades de negócio, a diversificação permite que as empresas reduzam a dependência de a um único mercado: elas se tornam capazes de reorientar e redistribuir recursos entre diferentes mercados dependendo da situação, afastando-se ou reaproximando-se do seu mercado principal.²

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Ulstein

A necessidade é a mãe da invenção

Ao analisar as empresas atuantes no ramo do petróleo, os pesquisadores foram capazes de apontar diversos desafios que precisam ser superados para permitir a diversificação do petróleo e gás offshore rumo às eólicas offshore Um desses desafios diz respeito justamente ao modo pelo qual ocorre o desenvolvimento de novas tecnologias. O desenvolvimento no setor de petróleo e gás é primariamente baseado em responder demandas existentes. Em outras palavras, as empresas petrolíferas abordam fornecedores e apresentam problemas específicos a serem resolvidos sob condições também específicas.

Este modelo de desenvolvimento tecnológico e nível de customização não existe na arena da energia eólica offshore. Neste setor, o que é esperado dos fornecedores é que desenvolvam internamente uma série de produtos que atendam aos padrões cabíveis e só então abordem possíveis compradores. Isso requer maior prontidão tecnológica, além de elevar a carga de risco. Entretanto, muitas empresas conseguem driblar este possível impasse definindo suas áreas de atuação e excelência de forma mais genérica. Por exemplo, uma empresa que atue no ramo fará seu marketing indicando que é especialista em gerenciar projetos de larga escala em geral, não apenas projetos de larga escala no ramo do petróleo e gás.³

Independente do tipo de problema que almejem resolver, seja um problema técnico, uma embarcação de manutenção offshore ou um desafio global urgente, os players noruegueses demonstraram excelência comprovada em identificar problemas, arregaçar as mangas e fazer o que precisa ser feito para resolvê-los. Afinal, a necessidade é a mãe da invenção.

Referências:

  1. “Established sectors expediting clean technology industries? The Norwegian oil and gas sector’s influence on offshore wind power”. Journal of Cleaner Production. Vol. 177, s. 813- 823. Tuukka Mäkitie, Allan D. Andersen, Jens Hanson, Håkon E. Normann, Taran M. Thune (2018). Centre for Technology, Innovation and Culture, University of Oslo.

  2. “The green flings: market fluctuations and incumbent energy industries’ engagement in renewable energy”. Tuukka Mäkitie, Håkon E. Normann, Taran M. Thune, and Jakoba Sraml Gonzalez (2018). Centre for Technology, Innovation and Culture, University of Oslo. TIK working papers on innovation studies. https://ideas.repec.org/s/tik/inowpp.html

  3. “Challenges for diversification into new markets for petroleum supply firms”. Allan Dahl Andersen and Magnus Guldbrandsen. Centre for Technology, Innovation and Culture, University of Oslo. Forthcoming in Thune, Engen & Wicken (2018): Transformation in the Petroleum Innovation System: Lessons from Norway and Beyond (Routledge, 2018).